Por incrível que possa parecer
aos olhos dos não iniciados no culto da Umbanda, não existe um consenso de
quais são os sete Orixás básicos ou as sete linhas, ou até mesmo sobre quais
são os Orixás da Umbanda. Mas para aqueles que já estão na Umbanda há algum
tempo fica fácil compreender que a Umbanda não tem um codificador, não tem uma
Bíblia, não tem um “Diretor de Culto” Supremo.
A Umbanda sofreu e sofre incríveis influências regionais e até
mesmo, numa mesma região, de terreiro para terreiro.
Zélio Fernandino de Moraes
Fundador da Umbanda |
As diferenças de culto, ritualística e de maneiras de
compreender a Umbanda devem ser encaradas como riqueza da nossa religião e não
como falta de organização. Portanto, não há intenção de determinar ou
decodificar a Umbanda. Entretanto, existem algumas premissas que, de certa
forma, são consenso dentro da Umbanda, havendo pequenas variações que devem ser
respeitadas.
Características Principais Da
Umbanda
A Umbanda é um sistema religioso fundamentalmente naturista,
isto é, se manifesta através das forças da natureza, assim como com espíritos
contemporâneos, ou não, pesando expressivamente em seu exercício as vibrações
das Almas. A Umbanda possui muitas co-irmãs e as pessoas muitas vezes
confundem-na com outras religiões que possuem nomenclaturas semelhantes às
utilizadas na Umbanda, no entanto a semelhança é meramente aparente e termina
aí. O fato da Umbanda ter como uma de suas raízes a forte influência
africanista e cultuar Orixás, gera muita confusão e sobressai a necessidade de
apontar limites bem claros.
1. Trabalhamos exclusivamente visando o bem, a caridade e a
evolução espiritual de todos.
2. Não temos “feituras de cabeça”, boris, raspagens, camarinhas,
roncós, corpo fechado, ebós, orunkô, feitura de santo, bascos, firmo de nação,
etc.
3. As sessões obedecem a horários pré-estabelecidos. Não vemos
nenhum sentido em sessões madrugadas adentro. Por que não? Simplesmente por ser
contraproducente, ninguém consegue manter a “gira firmada” por tanto tempo, as
pessoas trabalham, ficam cansadas, e a falta de concentração, ou nível
energético dos médiuns tende a cair drasticamente após 3 horas consecutivas de
culto. Além do mais a própria assistência começa a ficar desacomodada,
desconfortável, gerando vibrações de impaciência e falta de
interesse. Tudo isso gera um desacordo energético que acaba por influenciar o
bom andamento da gira. É claro que estamos nos referindo às giras ordinárias e
não às festivas.
4. O abate de animais (sacrifício) não faz parte, em nenhum
momento, de qualquer rito da Umbanda
(aberto ou fechado).
5. No que diz respeito a oferendas aos Orixás, guias, ou
entidades menores, ressalto que sou contra o uso excessivo desse
recurso como elemento de religação. A oferenda tem sua função específica e
determinada. A banalização da mesma influencia negativamente no desenvolvimento
do médium e na evolução do espírito (guia ou protetor) que a está recebendo.
Aqui você pode estar perguntando como e porque o uso excessivo
de oferenda pode atrapalhar a evolução de um espírito e/ou de um médium.
A resposta é simples e como em tudo há sempre dois lados a serem
observados:
Na realidade desestimulamos tudo que seja excessivo.
No caso das oferendas, existem consequências de ambos os lados, material e
espiritual.
Do lado material:
a) O custo dos elementos da oferenda (muitas pessoas chegam a
deixar de comer, ou até mesmo, permitem que falte alguma coisa dentro de sua
casa para comprar os elementos da oferenda).
b) Estímulo a barganha espiritual, ou seja, o ofertante acredita
que oferendando alguma coisa poderá obter privilégios junto a espiritualidade.
c) Estímulo a preguiça espiritual no sentido da evolução, ou
seja, o ofertante começa a acreditar que a oferenda substitui o seu empenho em
melhorar enquanto pessoa, geralmente com a famosa frase : “Eu cuido do meu
santo, já arriei minhas coisinhas”.
Do lado espiritual:
a) Pela pessoa somente se interligar com a espiritualidade
através da oferenda, as entidades receptoras começam a pedir cada vez mais
oferendas com o intuito de estarem sempre próximas da pessoa, pois sabemos que
para que haja aproximação da entidade é necessário que haja sintonia de
pensamentos e sentimentos. Quando fazemos uma oferenda, geralmente elevamos a
nossa faixa vibracional e nos harmonizamos com a entidade. Isso faz com que
comece a haver uma espécie de “vício” ou “ciclo vicioso”, onde
entidade e pessoa começam a precisar da oferenda para se comunicarem.
b) Disso surgem pedidos cada vez mais freqüentes impedindo a
evolução da pessoa e da entidade que começa a ver na oferenda a única forma de
contato com a pessoa ofertante.
Havendo a real necessidade, a oferenda deve ser
feita em locais determinados, normalmente junto à natureza ou reinos
apropriados. Lembrando sempre de deixar o local limpo como foi encontrado.
Nós umbandistas amamos a natureza e as suas energias, como
podemos sujar os locais sagrados para nós? É no mínimo incoerente. E uma coisa
que o umbandista não pode ser é incoerente.
A situação ideal é que todas as
oferendas sejam feitas dentro do próprio terreiro em alguma parte destinada
para esse fim.
6. A vestimenta básica do trabalhador de Umbanda é toda branca.
7. Não há, sob hipótese alguma, retribuições financeiras por
trabalhos executados, consultas, ou o que quer que seja, e nada, absolutamente
nada, justifica a cobrança de consulta.
Existem inúmeras maneiras de se sustentar um terreiro sem que
haja necessidade de se cobrar por nada que envolva o sagrado.
8. A ascensão ao sacerdócio na Umbanda se faz através do tempo,
da propriedade individual, da constância e seriedade com que o médium se propõe
à caridade. Mas fundamentalmente o trabalho, o tempo, a dedicação e o estudo
são a firmeza do médium, pois não adianta fazer uma série de recolhimentos e
preceitos se o médium não se entrega à função sacerdotal dentro e fora do
terreiro, com responsabilidade e consciência de seu papel.
9. A prática
religiosa deve ser realizada em locais específicos, nos centros. O atendimento
na residência do médium pode se tornar altamente perigoso, pois não haverá as
firmezas necessárias para a descarga dos atendimentos ou trabalhos lá
realizados. Muitos médiuns não veem problema algum em atender uma ou outra
pessoa em casa, entretanto afirmamos que existem consequências desastrosas para
quem começa assim e se deixa levar pela vaidade.
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